Rogério Ruschel (lado esquerdo da foto) na Herdade do Esporão |
Rogerio Ruschel é publicitário e jornalista
em São Paulo, Brasil, diretor da Essential Idea Editora, dedicada a livros
culturais, e editor de In Vino Viajas, o mais popular blogue de Cultura do
Vinho e Enoturismo da América Latina. Publicado em Português, In Vino Viajas tem
leitores em 134 países e média de 33.000 acessos por mês. Especialista em
marketing de produtos com identidade territorial como o vinho, Ruschel dá
cursos e palestras sobre o tema no Brasil e em Portugal, onde já visitou mais
de 50 adegas. Típico storyteller já
publicou mais de 70 historias sobre Portugal, país onde tem muitos leitores e
amigos .
1
- Qual a sua paixão/encanto no mundo dos vinhos?
Descobrir o sabor, aroma e a
permanência na boca de cada vinho (que é individual e exclusivo), mas
especialmente pesquisar e conhecer a identidade territorial e comunitária de
cada vinho, porque todo vinho é a expressão de um terroir, da cultura e da historia da comunidade que o produz, e do talento do enólogo. Assim vinhos fortificados
como moscatéis de Setúbal, da Madeira, das Ilhas Canarias e do Porto não são
iguais, apesar de parecidos. E um vinho dos mortos de Boticas não é apenas um
vinho conservado na terra, e sim, um vinho que conta histórias que vem do tempo
de Napoleão.
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Rogério Ruschel em Reguengos de Monsaraz |
2 – O que diferencia o vinho português?
Entre as diferenças estão
certas especificidades do terroir -
como no caso dos Vinhos Verdes e de vinhos mineralizados pela proximidade
do oceano - e a identidade de cada vinho.
Destaco, por exemplo, os vinhos de talha, uma herança romana de 2.000 anos que
permaneceu preservada por famílias na região do Alentejo. Tive a oportunidade
de conhecê-los em Vidigueira e Amareleja e tenho contado a meus leitores o
esforço dos produtores em transformá-lo oficialmente em um Património português
e depois da Unesco. Estes vinhos tem um ciclo produtivo, um know-how, uma
historia e um sabor diferentes dos outros e apesar de serem bebidos ainda
jovens, são excelentes.
3
– Como classifica o perfil do consumidor brasileiro na hora de comprar um vinho?
Os brasileiros tem baixo
consumo de vinho per capita (menos de 2 litros por ano) e de maneira geral se
dividem em dois grandes grupos que tem sub-grupos: consumidores de vinhos de
mesa, sem maior qualificação e que representam cerca de 80% do volume
consumido, e consumidores de vinhos finos de mesa que procuram
preferencialmente produtos estrangeiros, chilenos e argentinos (com benefícios
fiscais via Mercosul), portugueses, italianos e espanhóis, provavelmente nesta
ordem.
Além disso, ou por força de
sua cultura e formação, os brasileiros aceitam pagar caro por produtos brasileiros
e estrangeiros, e isso tem incentivado importadores. Brasileiros são muito
grupais, sociais, coletivos e uma pesquisa da Federação do Comercio de Mato
Grosso do Sul identifica isso, mostrando que o que motiva as pessoas a beber
vinhos é o ambiente familiar (38,3%) e encontros com os amigos (36,36%).
Outra pesquisa, desta vez da
Ibravin – o Instituto Brasileiro do Vinho – realizada em 2016 mostra que os
brasileiros tem dificuldades em identificar vinhos, consideram o processo da compra complexo e o preço é
elevado.
4
– Que oportunidades de negócios há no mercado brasileiro para o vinho português?
Todas as oportunidades – e
estão sendo aproveitadas cada vez mais. O fato é que os portugueses somente
agora, nos últimos dois ou três anos é que perceberam os aspectos positivos do mercado
brasileiro de vinhos, porque antes percebiam apenas as dificuldades de exportar
para cá. O Brasil ainda continua sendo um pais “que não é para amadores”
como se costuma dizer, mas compensa se
houver uma visão de médio e longo prazo. Anualmente são realizadas nas
principais capitais como São Paulo, Belo Horizonte, Rio de Janeiro, Curitiba,
Recife, eventos de apresentação de novos produtores em busca de importadores, e
como jornalista tenho sido convidado a conhecê-los, descobrindo grandes
surpresas positivas. Estes eventos tem sido realizados por Conselhos Regionais
Vitivinícolas com o apoio da Wines of Portugal e poderiam ser ampliados, indo
para cidades de médio porte. (Cidades de médio porte no Brasil são cidades com
450 mil a 800 mil habitantes...)
Creio que produtores
portugueses poderiam ser beneficiados se trabalhassem com empresas ou
especialistas de marketing localizadas no Brasil, ampliando a cobertura dos
importadores, identificando novos mercados menos competitivos porque o Brasil é
muito maior do que meia dúzia de cidades de grande porte, onde importadores
preferem operar, para reduzir custos.
5
– Que conselhos pode dar aos produtores que pretendem apostar no mercado
brasileiro?
Acreditar e ter paciência –
poucos terão resultados positivos em curto prazo. Investir na cultura do vinho,
na identificação dos valores que estão por detrás do vinho, porque estes não
existem nas cervejas, que é o principal concorrente do vinho no Brasil.
Investir em novos mercados regionais, menos disputados por produtos do
Mercosul. Investir em inteligência de mercado e em canais de relacionamento e
comunicação com o consumidor final: atualmente poucos importadores fazem isso porque
buscam o retorno imediato, e os produtores não fazem isso porque consideram
complexo. Por causa desta sindrome vinhos com eventual menor qualidade (e não necessariamente melhor
preço) como argentinos e chilenos de segunda linha continuam donos do mercado.
Poucas iniciativas de relacionamento com o mercado vão além das degustações de
praxe, que são realizadas como vitrines de venda. Devem ser feitas, certamente,
mas não apenas estas atividades comerciais porque brasileiros se sensibilizam
com abordagens emocionais.
Deixo um forte agradecimento
ao Rogério, pela sua simpatia e disponibilidade em participar nesta iniciativa
do blog.
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