Por Rogerio Ruschel, de São Paulo
A hora é agora. Temos evoluido no Brasil, vendendo cada vez menos vinho a granel. Entre 2008 e 2017 tivemos um crescimento real de 240% de produtos com alto valor agregado. Estamos prontos para atrair para o segmento os consumdores potenciais que não tem contato com o vinho. E se não aumentarmos abase de consumo não vamos nunca ultrapassar a barreira atual de consumo de 2 litros por ano por pessoa.
O Instituto
Brasileiro do Vinho (Ibravin) está realizando uma campanha muito corajosa no
Brasil, para dismitificar o consumo e atrair consumidores de vinho da geração
Millenial, entre 9 e 14 milhões de novos consumidores. O conhecido blogger
brasileiro Rogerio Ruschel (já entrevistado aqui no Papa Vinhos) escreveu sobre
esta iniciativa em seu blogue “In Vinho Viajas” e em sua coluna no portal
espanhol Vinetur, atraindo muita atenção. Agora Ruschel publica esta entrevista
sobre o assunto, feita com exclusividade para o Papa Vinhos. Com a palavra,
Rogerio Ruschel.
“Meu caro leitor ou leitora, há séculos os produtores de vinhos usam o marketing para
transformar o vinho em uma bebida para “momentos especiais”, que deve ser
consumida com alimentos especiais. Se isso está ou não correto não
interessa agora; o fato é que a base de consumidores não está se renovando ou
renovando muito vagarosamente e é necessário conquistar novos consumidores. Pois o Ibravin está rompendo a inércia para promover o
aumento da base de consumidores de vinho no Brasil, focando especialmente nos Millennials, o grupo de consumidores nascidos nas décadas de 1980 e 1990 e
responsáveis por 52% do poder de compra no mercado interno brasileiro. Entre as
estratégias para atrair este público estão várias ações (que você pod ever no
meu blogue) e uma campanha publicitária intitulada “Seu Vinho, Suas Regras”,
que rompe conceitos de degustação formal do vinho. Para apresentar a campanha aos leitores do
Papa Vinhos, entrevistei Diego Bertolini – veja a seguir.
Diego Bertolini (foto acima) é gerente de promoção de mercado interno e externo do Instituto
Brasileiro do Vinho (IBRAVIN). Nascido em Bento Gonçalves – principal pólo
vinícola do Brasil - é filho de vitivicultor e trabalhou com uvas e vinhos
desde jovem. Se formou em Administração
de Empresas, fez MBA em Gestão de Negócios pela
Fundação Getúlio Vargas, cursa o Wine & Spirits Global MBA da Kedge
Bussines School e tem pós-graduação em Marketing de Vinhos. Fez os níveis I, II e III da Wine & Spirit Education
Trust e é sommelier pela Federação Italiana de Sommelier. Fez visitas técnicas
em todas as regiões vinícolas do Brasil e na Argentina, Chile, Uruguai, África
do Sul, Canadá, Estados Unidos, França, Austrália e Itália.
R. Ruschel - Qual a perspectiva de
vendas e quais as oportunidades de negócios há no mercado português para os
vinhos brasileiros?
D. Bertolini –
Atualmente o mercado português não é um alvo prioritário dos produtores
brasileiros porque não temos exportadores trabalhando este mercado. Mas mesmo
assim seria um mercado de nicho, e não um mercado de volume - talvez alguma
coisa de espumantes. Produtores poderiam trabalhar Portugal, como as Vinícolas
Miolo e a Pizatto, por exemplo, que exportam regularmente para a outros paises
europeus como a França e a Inglaterra. Mas o suco de uva brasileiro tem
potencial no Mercado português.
R. Ruschel - Qual
a estratégia do Ibravin para a afirmação e crescimento dos vinhos brasileiros
no mercado externo; quais os paises prioritários?
D. Bertolini - Hoje
os principais mercados de exportação para vinhos brasileiros são Paraguai,
Colombia, Peru e Chile (nosso maior comprador de espumantes) na America Latina,
por causa das facilidades de logistica, menores custos de frete, de acordos
relacionados a impostos e a proximidades culturais com latinos. Depois vem os
Estados Unidos e a China. Os vinhos brasileiros são mais frescos, tem menos
frutas citricas, mais acidez e isso agrada ao paladar latino. Nossos vinhos são
mais alegres e nossos espumantes estão agradando muito no mundo todo.
R. Ruschel - Porque
os espumantes brasileiros estão se saindo tão bem nos mercados interno e
externo?
D. Bertolini - Parece
ser a nossa vocação, vinhos que melhor refletem nossa identidade, porque são
produtos com mais frescor, tanto os produzidos na Campanha gaúcha quanto na Serra,
na D.O. Vale dos Vinhedos. Conseguimos acidez natural, sem muito ácido
tartárico. Nossa uvas chardonnay, moscato, riesling e pinot noir, utilizadas
para espumantes, são bem adaptadas aos terroir. O Moscato, similar ao moscatel
de Portugal, já tem uma região de Indicação de Procedencia própria, estamos
melhorando a cada dia.
Creio que o brasileiro
tem o paladar da cana de açúcar, uma tradição trazida por protugueses. Gostamos
do residual de açúcar e o moscatel caiu no gosto. O moscatel brasileiro é um
produto de sobremesa, mas também de coquetel, tem acidez ao gosto do
brasileiro, é um produto versátil, fresco.
R. Ruschel - Quais os resultados esperados para esta
campanha de novo posicionamento dos vinhos junto aos Millenials?
D. Bertolini - Estamos
trabalhando com uma visão de longo prazo. Realizamos e estudamos pesquisas que
nos indicavam essa necessidade de desmistificar o consumno para se aproximar de
novas gerações de consumidores. E nos últimos dois anos trabalhamos em âmbito
interno convencendo produtores, levando o assunto para reuniões, mostrando a
necessidade de tomar a iniciativa.
Finalmente tomamos a
decisão estratégica de fazer o que o mercado quer e não o que os produtores
desejam. O Brasil tem 32 milhões de pessoas que tomam vinho pelo menos uma vez
ao mes, mas 90 milhões de brasileiros em condições de tomar vinho pelo menos
uma vez por mes não tem contato com a categoria. Precisamos nos aproximar
destas pessoas, conquistar uma parcela destes consumidores potenciais nos
proximos anos e os Millenials podem ser pelo menos 9 milhões de novos consumidores.
A hora é agora. Temos evoluido no Brasil, vendendo cada vez menos vinho a granel. Entre 2008 e 2017 tivemos um crescimento real de 240% de produtos com alto valor agregado. Estamos prontos para atrair para o segmento os consumdores potenciais que não tem contato com o vinho. E se não aumentarmos abase de consumo não vamos nunca ultrapassar a barreira atual de consumo de 2 litros por ano por pessoa.
R. Ruschel - Como
chegar aos Millenials, e como conquistar sua confiança?
D. Bertolini - Estes
são consumidores com bom potencial. Millenials gostam do que chamamos aqui de
“filtro Instagram”, mostrar produtos bonitos na foto, como rosés, espumantes e
brancos. Estive ontem uma champanheria na Lapa, no Rio de Janeiro, e 70% dos vinhos
consumidos são rosés.
Para chegar aos
Millenials temos uma campanha que propõe a desmisticacação, que vai veicular fortemente
em escala nacional em agosto (com 55 milhões de impactos) e depois retorna em
outubro e novembro. Sabemos que vamos colher os melhores resultados só daqui a
10 anos, mas temos que começar.
Mas não vamos suspender
nossas outras ações, aquelas especializadas como o concurso do melhor sommelier
do Brasil, participação e realização de premios e concursos, capacitação de
garçons ee sommeliers e outros.
Agora temos que focar em
convencer os produtores a realizar ações junto a geração Millenial, porque o
Ibravin pode começar a mobilização, mas os produtores é que tem que mostrar
seus produtos e fazer seu marketing. A Vinicola Cainelli já realiza ações
alinhadas com nossa campanha, propondo que “Você decide a maneira certa de
consumir nossos vinhos”. Esperamos que outros produtores se alinhem com essa
proposta o mais rápido possivel.
Meu caro leitor, brindo
a isso.”
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