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Flash Interview com Diego Bertolini, Gestor de Marketing do Instituto Brasileiro do Vinho

Por Rogerio Ruschel, de São Paulo

O Instituto Brasileiro do Vinho (Ibravin) está realizando uma campanha muito corajosa no Brasil, para dismitificar o consumo e atrair consumidores de vinho da geração Millenial, entre 9 e 14 milhões de novos consumidores. O conhecido blogger brasileiro Rogerio Ruschel (já entrevistado aqui no Papa Vinhos) escreveu sobre esta iniciativa em seu blogue “In Vinho Viajas” e em sua coluna no portal espanhol Vinetur, atraindo muita atenção. Agora Ruschel publica esta entrevista sobre o assunto, feita com exclusividade para o Papa Vinhos. Com a palavra, Rogerio Ruschel.

“Meu caro leitor ou leitora, há séculos os produtores de vinhos usam o marketing para transformar o vinho em uma bebida para “momentos especiais”, que deve ser consumida com alimentos especiais. Se isso está ou não correto não interessa agora; o fato é que a base de consumidores não está se renovando ou renovando muito vagarosamente e é necessário conquistar novos consumidores. Pois o Ibravin está rompendo a inércia para promover o aumento da base de consumidores de vinho no Brasil, focando especialmente nos Millennials, o grupo de consumidores nascidos nas décadas de 1980 e 1990 e responsáveis por 52% do poder de compra no mercado interno brasileiro. Entre as estratégias para atrair este público estão várias ações (que você pod ever no meu blogue) e uma campanha publicitária intitulada “Seu Vinho, Suas Regras”, que rompe conceitos de degustação formal do vinho.  Para apresentar a campanha aos leitores do Papa Vinhos, entrevistei Diego Bertolini – veja a seguir.




Diego Bertolini (foto acima) é gerente de promoção de mercado interno e externo do Instituto Brasileiro do Vinho (IBRAVIN). Nascido em Bento Gonçalves – principal pólo vinícola do Brasil - é filho de vitivicultor e trabalhou com uvas e vinhos desde jovem. Se  formou em Administração de Empresas, fez MBA em Gestão de Negócios pela  Fundação Getúlio Vargas, cursa o Wine & Spirits Global MBA da Kedge Bussines School e tem pós-graduação em Marketing de Vinhos. Fez os níveis  I, II e III da Wine & Spirit Education Trust e é sommelier pela Federação Italiana de Sommelier. Fez visitas técnicas em todas as regiões vinícolas do Brasil e na Argentina, Chile, Uruguai, África do Sul, Canadá, Estados Unidos, França, Austrália e Itália.

R. Ruschel - Qual a perspectiva de vendas e quais as oportunidades de negócios há no mercado português para os vinhos brasileiros?
D. Bertolini – Atualmente o mercado português não é um alvo prioritário dos produtores brasileiros porque não temos exportadores trabalhando este mercado. Mas mesmo assim seria um mercado de nicho, e não um mercado de volume - talvez alguma coisa de espumantes. Produtores poderiam trabalhar Portugal, como as Vinícolas Miolo e a Pizatto, por exemplo, que exportam regularmente para a outros paises europeus como a França e a Inglaterra. Mas o suco de uva brasileiro tem potencial no Mercado português.

R. Ruschel - Qual a estratégia do Ibravin para a afirmação e crescimento dos vinhos brasileiros no mercado externo; quais os paises prioritários?
D. Bertolini - Hoje os principais mercados de exportação para vinhos brasileiros são Paraguai, Colombia, Peru e Chile (nosso maior comprador de espumantes) na America Latina, por causa das facilidades de logistica, menores custos de frete, de acordos relacionados a impostos e a proximidades culturais com latinos. Depois vem os Estados Unidos e a China. Os vinhos brasileiros são mais frescos, tem menos frutas citricas, mais acidez e isso agrada ao paladar latino. Nossos vinhos são mais alegres e nossos espumantes estão agradando muito no mundo todo.



R. Ruschel - Porque os espumantes brasileiros estão se saindo tão bem nos mercados interno e externo?
D. Bertolini - Parece ser a nossa vocação, vinhos que melhor refletem nossa identidade, porque são produtos com mais frescor, tanto os produzidos na Campanha gaúcha quanto na Serra, na D.O. Vale dos Vinhedos. Conseguimos acidez natural, sem muito ácido tartárico. Nossa uvas chardonnay, moscato, riesling e pinot noir, utilizadas para espumantes, são bem adaptadas aos terroir. O Moscato, similar ao moscatel de Portugal, já tem uma região de Indicação de Procedencia própria, estamos melhorando a cada dia.
Creio que o brasileiro tem o paladar da cana de açúcar, uma tradição trazida por protugueses. Gostamos do residual de açúcar e o moscatel caiu no gosto. O moscatel brasileiro é um produto de sobremesa, mas também de coquetel, tem acidez ao gosto do brasileiro, é um produto versátil, fresco.

R. Ruschel -  Quais os resultados esperados para esta campanha de novo posicionamento dos vinhos junto aos Millenials?
D. Bertolini - Estamos trabalhando com uma visão de longo prazo. Realizamos e estudamos pesquisas que nos indicavam essa necessidade de desmistificar o consumno para se aproximar de novas gerações de consumidores. E nos últimos dois anos trabalhamos em âmbito interno convencendo produtores, levando o assunto para reuniões, mostrando a necessidade de tomar a iniciativa.
Finalmente tomamos a decisão estratégica de fazer o que o mercado quer e não o que os produtores desejam. O Brasil tem 32 milhões de pessoas que tomam vinho pelo menos uma vez ao mes, mas 90 milhões de brasileiros em condições de tomar vinho pelo menos uma vez por mes não tem contato com a categoria. Precisamos nos aproximar destas pessoas, conquistar uma parcela destes consumidores potenciais nos proximos anos e os Millenials podem ser pelo menos 9 milhões de novos consumidores.

A hora é agora. Temos evoluido no Brasil, vendendo cada vez menos vinho a granel. Entre 2008 e 2017 tivemos um crescimento real de 240% de produtos com alto valor agregado. Estamos prontos para atrair para o segmento os consumdores potenciais que não tem contato com o vinho. E se não aumentarmos abase de consumo não vamos nunca ultrapassar a barreira atual de consumo de 2 litros por ano por pessoa.



R. Ruschel - Como chegar aos Millenials, e como conquistar sua confiança?
D. Bertolini - Estes são consumidores com bom potencial. Millenials gostam do que chamamos aqui de “filtro Instagram”, mostrar produtos bonitos na foto, como rosés, espumantes e brancos. Estive ontem uma champanheria na Lapa, no Rio de Janeiro, e 70% dos vinhos consumidos são rosés.
Para chegar aos Millenials temos uma campanha que propõe a desmisticacação, que vai veicular fortemente em escala nacional em agosto (com 55 milhões de impactos) e depois retorna em outubro e novembro. Sabemos que vamos colher os melhores resultados só daqui a 10 anos, mas temos que começar.
Mas não vamos suspender nossas outras ações, aquelas especializadas como o concurso do melhor sommelier do Brasil, participação e realização de premios e concursos, capacitação de garçons ee sommeliers e outros.
Agora temos que focar em convencer os produtores a realizar ações junto a geração Millenial, porque o Ibravin pode começar a mobilização, mas os produtores é que tem que mostrar seus produtos e fazer seu marketing. A Vinicola Cainelli já realiza ações alinhadas com nossa campanha, propondo que “Você decide a maneira certa de consumir nossos vinhos”. Esperamos que outros produtores se alinhem com essa proposta o mais rápido possivel.
Meu caro leitor, brindo a isso.”

Veja o filme para a TV aqui: https://www.youtube.com/watch?v=czW1D2bjByw

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