Flash interview com Carlos Cabral, o maior comprador de
vinhos do Brasil
Por Rogerio Ruschel
Da esquerda para a direita: Rogério Ruschel e Carlos Cabral |
O conhecido jornalista brasileiro Rogerio Ruschel
fez uma entrevista exclusiva para seu blogue “In Vinho Viajas” com Carlos Cabral,
diretor de vinhos do Grupo Pão de Açúcar, a maior rede varejista do Brasil, com
mais de 1000 lojas. Cabral – também autor de
seis livros, entre os quais o mais completo Dicionário do Vinho do Porto -
comenta sobre os vinhos mais vendidos
pela rede, entre os quais os portugueses. Papa Vinhos publica parte desta
entrevista com exclusividade em Portugal. Com a palavra, Rogerio Ruschel.
O Grupo Pão de Açucar (GPA) é a maior rede varejista do
Brasil, com mais de 2.000 pontos de venda, dos quais 1.000 lojas são da divisão
GPA Alimentar e vendem vinhos nas redes Pão de Açucar (186 lojas), Extra (300),
Minuto Pão de Açúcar (82), Mini Extra (183), Assai Atacadista (130
lojas) e Compre Bem. O grupo também opera um clube de vinhos, o Viva Vinhos Pão
de Açúcar. O GPA ainda tem 900 lojas das marcas Casas Bahia, Pontofrio e Lojas
Bartira. A empresa faz parte do Grupo Casino, da França, e depois do governo
federal é o maior empregador brasileiro.
Para estar de verdade no mercado brasileiro de vinhos
precisa estar no GPA, que vende milhões de garrafas de vinhos por ano. Algumas
pessoas falam em milhões de garrafas por mês! O diretor e comprador se chama
Carlos Cabral (o simpático cavalheiro de casaco escuro, na foto comigo, acima)
que não me disse o volume de vendas, mas certamente são milhões de garrafas por
ano. Veja a seguir algumas das revelações de Cabral.
R. Ruschel – Quantos rótulos o GPA oferece a seus
clientes? Quais os vinhos mais vendidos?
C. Cabral – “No Pão de Açúcar e no Extra já tivemos à
venda mais de 1.000 rótulos, mas
atualmente são cerca de 800, o que é um ótimo número porque oferece todas as
alternativas para quem compra e facilita a gestão nos 17 Estados brasileiros.
Em termos de volume, os vinhos mais vendidos são chilenos, com 44% do volume.
Depois vem os vinhos de Portugal com 15%, 10% da Argentina, 9% da Italia, 4% da
França e os restantes 18% são do Brasil, Espanha, Uruguai, Alemanha, Austrália,
Nova Zelandia, Estados Unidos e outras regiões.
R. Ruschel – Quem está crescendo e quem está perdendo
mercado?
C. Cabral – Além do Chile que mantém a velocidade na
conquista de mercado, os portugueses parece que redescobriram o mercado
brasileiro de uns três anos para cá. E estão decididos a aumentar a presença.
Os espanhois fizeram nitidamente uma opção pela China e se esqueceram do
Brasil, e os franceses pouco investem, talvez porque se interessam apenas por
segmentos de maior valor. Os argentinos se beneficiam dos acordos de Mercosul e
da proximidade e mantém posição.
R. Ruschel – Qual o “caminho das pedras” para um vinho
chegar às prateleiras do GPA?
C. Cabral - Primeiro o vinho tem que ser bom, tem que ter
qualidade. O produtor ou importador agenda comigo uma apresentação, degusto
alguma coisa e ele deixa amostras que mais tarde vou compartilhar com meus dois
compradores, caso os rótulos tenham qualidade. Experimentamos todos e decidimos
sobre o perfil de preço que ele deve ter, o potencial de volume de vendas e a
margem da loja. Se os produtos passarem por esta primeira análise, os
compradores vão entrar em contato com os vendedores para negociar volumes,
preços, condições de pagamento, aspectos de merchandising (frentes, gondolas,
degustadores, promoções) e outras coisas. Um vinho desconhecido não consegue se
vender sozinho, precisa ter degustação, precisa de ajuda inicial no ponto de
venda. Cerca de 180 pessoas trabalham comigo nas lojas degustando, promovendo,
cuidando e ajudando os clientes a decidirem.
Rogério Ruschel com livros editados por Carlos Cabral |
R. Ruschel – Você já escreveu seis livros sobre vinhos.
Está trabalhando em outro?
C. Cabral – Tenho dois projetos. O primeiro é um livro
sobre as mesas da minha vida. Será mais artístico. Nos últimos 40 anos passei
por centenas de mesas de todos os tipos, de jantares com amigos ou familiares a
banquetes empresariais para dezenas de pessoas. E todas elas com vinhos e
historias, muitas historias interessantes. (Nota do editor: Cabral já publicou
seis livros, alguns deles estão comigo na foto acima. No fim desta reportagem um
link para conhecer os livros). O segundo projeto de livro é algo assim como “O
vinho e eu”, para comemorar meus 50 anos como enófilo que vou comemorar em
2019. Mas nenhum dos livros tem plano de trabalho nem data.
R. Ruschel – Como está o projeto de exposição da tua
coleção de rótulos de vinhos do Porto?
C. Cabral – Comecei minha coleção no inicio dos anos 1970
e tenho mais de 8.100 rótulos. Parece que é a maior do mundo, uma parte já
apresentei nos meus livros. Gostaria de fazer uma exposição em 2019, mas ainda
não consegui local e os recursos para fazê-la.
R. Ruschel – O que você acha da campanha de
desmistificação do vinho que está sendo feita pelo Ibravin?
C. Cabral – É uma excelente iniciativa. Sou fiador moral,
dou meu total apoio e estou procurando ajudar com ações nas seções de vinhos
brasileiros de nossas lojas. Agora a Ibravin sozinha não vai mudar nada,
precisa do apoio dos produtores, das vinícolas, porque elas é que estão
disputando no mercado e também de produtores de regiões do Brasil além da serra
gaúcha, onde o Ibravin não atua. Espero que as vinícolas brasileiras entendam
esta oportunidade e se aproximem do mercado, não apenas aumentem os preços.
R. Ruschel – Você já esteve em quase todos os destinos de
turismo do vinho do mundo. Quais os mais interessantes na sua opinião?
C. Cabral – As pessoas tem percepções diferentes do que
gostam, mas para mim o primeiro é o Chile. Fica mais perto de nós, tem roteiros
próximos e distantes da capital, o verão chega a 42 graus, é muito seco, e eles
fazem um vinho excelente; e é muito bonito, tudo foi montado para receber o
turista com qualidade. Depois viriam os roteiros de Portugal, do Alentejo ao
Douro, gosto de todos, também muito bonitos e com ótimos vinhos. E no Brasil a
região do Vale dos Vinhedos, com destaque para Bento Gonçalves e Garibaldi,
onjde parece que tudo está preparado para receber os turistas como deveria ser.
Conheça a historia de
Carlos Cabral e seu legado na forma de livros nesta outra entrevista que
publiquei no In Vino Viajas em julho de 2017 – http://www.invinoviajas.com/2017/07/conheca-carlos-cabral/
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